Todas as noites não chegam para o amor. Mas de manhã
ficam-te os lábios estreitos para as palavras ditas ao ouvido
que pontuam os gestos, como as pedras enfeitam o leito
das correntes. A minha boca decerto sobreviviria aos próprios
gritos - e o meu corpo às queimaduras do teu corpo; mas
a manhã passou as janelas a limpo e o que ficou é uma caligrafia
trémula que lembra um bilhete de despedida - o corpo que se
oferece às dentadas da morte no campo imenso da sua solidão.
Eu não sabia que todas as noites do mundo eram efémeras.
PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 100.
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