Primeiro está a solidão.
Nas entranhas e no centro da alma:
esta é a essência, o dado básico, a única certeza;
que só a tua respiração te acompanha,
que sempre bailarás com a tua sombra,
que essa treva és tu.
Teu coração, esse fruto perplexo, não tem que azedar-se com tua sina solitária;
deixa-o esperar sem esperança
de que o amor é uma dádiva que um dia chegará só por si.
Mas primeiro está a solidão,
e tu estás só,
estás só como teu pecado original - contigo próprio - ,
Acaso, uma noite, às nove,
aparece o amor e tudo estoira e algo se ilumina dentro de ti.
e tornas-te outro, menos amargo, mais feliz;
mas não te esqueças, especialmente então,
quando o amor chega e te calcina,
que primeiro e sempre está a tua solidão e logo nada
e depois, se houver de chegar, está o amor.
Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana, Assírio e Alvim, s.l., 2012, p. 289.
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