- Minha revolta é contra o colonialismo, contra a polícia, contra como nossos pais são tratados.
Diz, e pega minha mão:
- Mais velho, olha: os portugueses chegaram a Angola em 1482, e só chegaram ao Brasil em 1500. Entretanto, olha o Brasil evoluiu e Angola ficou. Angola foi sempre uma terra de exploração do homem para desenvolver outras terras. Portugal, com toda a sua teoria, não quer nada com o homem negro de Angola. 99% da população africana de Angola, Guiné e Moçambique é considerada “não civilizada” pelas leis portuguesas. 0,3% da população é considerada “assimilada”. Porque, mesmo terminada a escravidão no mundo, Portugal continuou com o sistema de contrato obrigatório, levando os negros a trabalhar obrigatoriamente para as fazendas dos colonos, ou então deportados para São Tomé e Príncipe. 20.000 trabalhadores de Angola, Moçambique e de Cabo Verde fazem faina de doze horas de trabalho por dia nas roças dos colonos de São Tomé, no coração da zona equatorial. Todos os anos são alugados 250.000 angolanos para as plantações, sociedades mineiras e empresas de construção. Todos os anos 400.000 moçambicanos são submetidos ao trabalho forçado, cerca de 100.000 para as minas da África do Sul e das Rodésias. Nós temos as nossas aspirações, mais-velho. Isto não pode ficar assim.
SOUSA, Lúcio Sousa, O Diabo foi meu padeiro, Alfragide, D. Quixote, 2019, pp. 197-198.
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