era um lugar no telhado da cidade
com
senhoras de olhos calmos
e moscas gordas.
um sino abençoou o silêncio,
uma nuvem roçou a igreja
cumprimentando árvores
velhos e
pássaros,
era um lugar onde as sombras
se afogavam - náufragas
e regressavam ao mundo em silêncio - sobreviventes,
dali
as pessoas emprestavam os pés às pombas
e e elas roçavam os telhados
para cumprimentar as casas.
certa manhã
ali sentado
ouvi o sino falar.
não decifrei o murmúrio
[não tenho o dom da quietude]
mas embebi-me do essencial:
aquele era também um deslugar
- chão apropriado para repousar os dedos
e esperar uma formiga passar;
esperar a mordidela também
sabendo-me vivo
em corpo de sangue.
ONDJAKI, Materiais para confecção de um espanador de tristezas, Editorial Caminho, 2009, pp. 20-21.
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