quem amo o que é que pode
fazer deste retrato?
nem sabê-lo de cor,
nem ter encaixilhado,
nem guardá-lo num livro,
nem rasgá-lo ou queimá-lo,
mas pode pôr-se ao lado
e ter prazer ou pena
por nos achar parecidos
ou não achar, quem amo
não fica desenhado,
fica dentro de mim
e é quando mais me apago
e deixo de me ver
e apenas me confundo,
amador transformado
na própria casa amada
por muito imaginar,
assim nem john ashberry,
nem o parmigianino,
nem espelho convexo,
nem mesmo auto-retrato.
só uma sombra que é
na sombra de quem amo
provavelmente a minha.
MOURA, Vasco Graça, Laocoonte, rimas váias, andamentos graves, Quetzal Editores, 2005, p. 17.
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