sábado, 7 de maio de 2022

Prosa de centenário

Minha é apenas (e não o direi por amor,

mas por excesso de atenção

que requer o âmbar para arder)

uma luz inclinada para as violetas;


é tudo o que me resta de um país

cuja tristeza é cada vez mais vil,

essa luz que

entre os dedos se esboroa lenta;


e vendo bem, nem essa luz é minha

apenas, mas de quem na sombra

sente a sua

respiração difícil antes de dormir.


ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 76.

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