terça-feira, 31 de maio de 2022

Como a sentir a tua cara rente

Como a sentir a tua cara rente

à minha e as tuas mãos nas minhas, ou

como se a dança amarguradamente

nos desse nesta noite ainda um slow


levado a medo, apenas a ternura

a conduzir de leve os nossos passos 

e o corpo estremecendo-te à procura

do seu  lugar na grade dos meus braços,


e a luz, fina película de vidros

por entre a frialdade de janeiro,

a trespassar os corações partidos

estranhamente, e o meu sendo o primeiro.


como se não doesse o que doía

na própria dor tingida de alegria. 



MOURA, Vasco Graça, Laocoonte, rimas várias, andamentos graves, Quetzal Editores, 2005, p. 46.

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