terça-feira, 31 de maio de 2022

Horizonte vazio

Horizonte vazio em que nada resta

Dessa fabulosa festa

Que um dia se iluminou.

 

As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,

Mas hoje estão vazias e gastas

E foi o meu desejo que as gastou.

 

Era do pinhal verde que descia

A noite bailando em silenciosos passos,

E naquele pedaço de mar ao longe ardia

O chamamento infinito dos espaços.

 

Nos areais cantava a claridade,

E cada pinheiro continha

No irreprimível subir da sua linha

A explicação de toda a heroicidade.

 

Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho,

Árvore morta sem fruto,

Em teu redor deponho

A solidão, o caos e o luto.


ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra do mar, Caminho, 5.ª edição, 2005, p. 75.

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