terça-feira, 24 de maio de 2022

Procurei o amor

Procurei o amor, a sua humana forma

gerada na matriz das idades

por um eterno germe de amargura.

Mas o amor não existe, digo eu

com uma sede de boca calcinada,

com uma angústa de pupila seca


ou de sangue impotente que não pode

prolongar a península do filho.

E no entanto amei

uma vez, não sei quantas...

Pode acaso a chama

medir as suas azuladas vibrações

com o seu pulso de ar,

ou pode o sonho

determinar a eternidade abstracta

com o seu tacto de tempo retido?


Falo de amor como o entende minha sede,

com o seu passo de água,

o seu clima de pombas

e o seu segredo de afiladas vozes;

com o seu gozo gerado pelo pranto

numa idade sem meridiano,

a sua colheita de júbilos eternos

e o seu doce silêncio de raízes.


Esse não existe.

O homem nunca pode

dar ao amor a sua verdadeira forma,

como não pode o vento

dizer a dimensão das cores

nem a estrela a data em que nasceu.


Ah, se o pudesse encontrar!...

mas é tarde.

Passou por mim a vida

procurando o impossível

e agora não me fica senão o tempo

exacto do esquecimento.


Laura Vitória in  Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana, Assírio e Alvim, s.l., 2012, pp. 69-70.

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