Procurei o amor, a sua humana forma
gerada na matriz das idades
por um eterno germe de amargura.
Mas o amor não existe, digo eu
com uma sede de boca calcinada,
com uma angústa de pupila seca
ou de sangue impotente que não pode
prolongar a península do filho.
E no entanto amei
uma vez, não sei quantas...
Pode acaso a chama
medir as suas azuladas vibrações
com o seu pulso de ar,
ou pode o sonho
determinar a eternidade abstracta
com o seu tacto de tempo retido?
Falo de amor como o entende minha sede,
com o seu passo de água,
o seu clima de pombas
e o seu segredo de afiladas vozes;
com o seu gozo gerado pelo pranto
numa idade sem meridiano,
a sua colheita de júbilos eternos
e o seu doce silêncio de raízes.
Esse não existe.
O homem nunca pode
dar ao amor a sua verdadeira forma,
como não pode o vento
dizer a dimensão das cores
nem a estrela a data em que nasceu.
Ah, se o pudesse encontrar!...
mas é tarde.
Passou por mim a vida
procurando o impossível
e agora não me fica senão o tempo
exacto do esquecimento.
Laura Vitória in Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana, Assírio e Alvim, s.l., 2012, pp. 69-70.
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