terça-feira, 3 de maio de 2022

De passagem

Não é o tempo 

o que passa.

    És tu

que te afastas

    apressadamente

para a sombra,

e vais deixando cair,

como quem se despoja

dos seus bens,

tudo aquilo que amaste,

as horas

que te fizeram a sorte,

amigos

em quem teve um dia

refúgio a tua tristeza, 

sonhos

inacabados. 

No final, quase 

vazias as mãos,

perguntas-te

em que momento

se foi de ti a vida,

se te segue ao ir,

como um fio de água

por entre os dedos.


Meira Delmar in  Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana, Assírio e Alvim , s.l., 2012, p. 115.

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