domingo, 31 de julho de 2022

Lançada vai pelas praias da pureza

Lançada vai pelas praias da pureza

a poetisa angélica com os seus acólitos

braços de luz saem-lhe da boca

e o mar inunda-lhe a vagina.


CARVALHO, Armando Silva, Activo, O País das minhas vísceras, Língua morta, 2021, p. 210.


Despertar


Dizem que todos os dias te dão uma nova oportunidade. Ao acordar de manhã ganho sempre a esperança de um novo dia, contudo os dias passam e vejo a vida passar sem nada de novo para viver...

sábado, 30 de julho de 2022

Um estádio a desaparecer


 ÉVORA

A História parou

Será que não percebes que o passado, imcluindo ontem, foi totalmente abolido? Se subistir algures, será numa mão-cheia de objectos sólidos aos quais não estão associadas palavras, como aquele pedaço de vidro ali. Já não sabemos quase nada, literalmente, sobre a Revolução nem sobre os anos que antecederam a Revolução. Todos os documentos foram  destruídos ou adulterados, todos os livros foram reescritos, todos os quadros foram pintados por cima, todas as estátuas e ruas e prédios foram rebatizados, todas as datas foram alteradas. É um processo que continua dia após dia, minuto após minuto. A História parou. Não existe senão um presente interminável no qual o Partido tem sempre razão.

ORWELL, George, 1984, Alfragide, D. Quixote, 2019, p.174.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Budas dourados











 Buda Eden, Bombarral

Museu do Combatente de Lisboa


O espaço museológico do Forte do Bom Sucesso (século XVIII) é um dos núcleos museológicos da Liga dos Combatentes, aberto ao público em 2003 com vista à instalação do Museu do Combatente. A Liga dos Combatentes existe desde 1923, enquanto Instituição Pública de Solidariedade Social.





Este espaço tem como principal finalidade a expressão dos feitos militares portugueses, constituindo um pólo de divulgação da História de Portugal, onde se evidenciam três épocas do século XX: I Guerra Mundial, Campanhas do Ultramar e Missões de Paz. O Museu do Combatente constitui ainda uma homenagem aos Combatentes que serviram Portugal no antigo Ultramar, através da integração neste espaço (desde 1993), do “Monumento aos Combatentes do Ultramar”. Este conjunto Museu do Combatente e Monumento aos Combatentes do Ultramar constitui um verdadeiro espaço de Cultura, Cidadania e Defesa. Ele simboliza um fim do ciclo da história de Portugal – Fim do Império, cujo início é materializado no mesmo espaço pela Torre de Belém.









O Forte do Bom Sucesso − Museu do Combatente para além da monumentalidade do espaço (junto à Torre de Belém), apresenta três espaços expositivos permanentes ao ar livre com equipamento relativo aos ramos das Forças Armadas Portuguesas, duas exposições permanentes interiores – “O Combatente Português do Século XX” e a “História da Aviação Militar” e ainda exposições temporárias de pintura, escultura e fotografia.

Cada visita ao Museu do Combatente e Forte do Bom Sucesso é uma contribuição para garantia de um dos objectivos fundamentais da Liga de Solidariedade e Apoio mútuo aos Combatentes e famílias mais carenciados.

Gostei muito de visitar este espaço museológco em 2017 porque foi aqui que o meu avô Celestino fez a recruta ;D além de nos aproximar do tempo da estúpida I Guerra Mundial...

Fonte: http://www.visitlisboa.com/Conteudos/Entidades/Museus/MUSEU-DOS-COMBATENTES-(1).aspx


Navio a entrar na barra





Portimão
 

Rascunho na Mata




 ÉVORA

O que guardarás de mim?

Guardarás numa caixinha virtual

o que não fiz por ti,

a mão que não chegou à sobrancelha

que nem aflorou,

o beijo repetido nas palavras

sem que o tacto

o multiplicasse qual se desejava.


Nessa caixa de nada, não tardará depois

a  não estares só tu,

a não estar só eu,

a estarmos só os dois. 


 CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.l., Língua Morta, 2021, p. 15.

Ribeira vazia


 JAMOR, CRUZ QUEBRADA

sábado, 23 de julho de 2022

Desejo P

Não tens noção

de quanto o corpo é corpo

no desejo


Anjo


voando sobre

o que é baixo


Sob


voando sob 

o que é por baixo

 

HORTA, Maria Teresa, As palavras do corpo, Lisboa, 2.ª edição, Publicações D. Quixote, 2014, p. 172.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

CHE GUEVARA

Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas

A indecisão dos complicados e o primarismo

Daqueles que confundem revolução com desforra

 

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo

Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas

Porém

Em frente do teu rosto

Medita o adolescente à noite no seu quarto

Quando procura emergir de um mundo que apodrece.

 

[Parabéns X P, hoje fazes 44, eu espero que sejas feliz]

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, O Nome das coisas, Assírio & Alvim, 1.ª edição, 2015, p. 38.

Poesia Ex em Évora


 

Este é o meu corpo

Tomai, este é o meu corpo:

formas e símbolos.


Fora de mim, o meu reino

desmembra-se dentro de mim.


E o que fala falta-me

dentro do coração.


E estou sozinho fora de mim

como um coração fora de mim.


PINA, Manuel António, Todas as palavras - poesia reunida, Porto, Assírio e Alvim, 2012, p. 141.

Poesia adequada ao XPTO

Refeito aragem, pentearei os montes

sem já poder dizer o que não disse,

muito menos fazer, e muito menos dar.

Depressa me não verás, nem o amor

soltará seu tímido vagido, nem será

o banco de jardim onde te sentas:

pois em nenhum lugar passará a brisa

que nem sequer de ti terá saudade,

e assim te pagará com negação

os momentos, mementos, os teus olhos.


 TANEM, Pedro, Rua de nenhures, Alfragide Publicações D. Quixote, 2013, p. 41.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Sou bela e todos me amam

HAY, Louise , HOLDEN, Robert, A vida ama-me, s.l., Pergaminho, 2015, p. 32.

Um bosque


Terceira, Açores


Terceira, Açores



Um bosque é uma floresta esparsa. No bosque as árvores encontram-se dispersas pelo terreno e os arbustos não cobrem o solo por inteiro. No bosque há tufos de arvoredo e há clareiras. O meio ambiente  pode reflectir o tom esverdeado dos milhões de folhas suspensas dos ramos,mas a luz do sol, ao contrário do que sucede na floresta, ilumina a terra, e o manto de vegetação que sobre ela se acumula deixa os detritos vegetais e as miudezas do húmus à vista. 

JORGE, Lídia, Em todos os sentidos, Alfragide, 2.ª edição, Publicações D. Quixote, 2020, p. 13.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Amor? Só ao Grande Irmão

Cerceámos os laços entre filhos e pais, entre um homem e outro homem, e entre um homem e uma mulher. Já ninguém se atreve a confiar numa mulher ou num filho ou num amigo. Mas no futuro, deixará de haver mulheres e amigos. As crianças serão retiradas às mães à nascença, tal como se tira ovos a uma galinha. O instinto sexual será erradicado. A procriação será uma normalidade anual como a renovação das senhas de racionamento. Aboliremos o orgasmo. Os nossos neurologistas estão neste preciso momento a trabalhar nesse sentido. Não haverá lealdade, excepto a lealdade para com o Partido. Não haverá amor, excepto o amor com o Grande Irmão. Não haverá riso, excepto o riso do júbilo com a derrota de um inimigo. Não haverá arte, nem literatura, nem ciência. Quando formos omnipotentes, deixaremos de precisar da ciência. Não haverá distinção entre beleza e fealdade. Não haverá arte, nem literatura, nem ciência. Todos os prazeres concorrentes serão destruídos (...) Haverá sempre a embriaguez do poder, cada vez mais intensa e cada vez mais subtil. Haverá sempre, em todos os momentos, o entusiasmo da vitória, a sensação de espezinhar um inimigo que está indefeso.


ORWELL, George, 1984, Alfragide, D. Quixote, 2019, pp. 294-295.

sábado, 16 de julho de 2022

Refugiar no futuro

A maior parte das vezes, para escapar ao sofrimento refugiamos-nos no futuro. Julgamos que a pista do tempo tem uma linha marcada para lá da qual o sofrimento presente há-de cessar.

KUNDERA, Milan, A Insustentável leveza do ser, Alfragide, D. Quixote, 32.ª edição, 2015, p.210.

Grua


 Zona ribeirinha de Portimão

Portel









O que é o amor?

O amor é muito mais que um sentimento ou uma emoção. Ele é a nossa verdadeira natureza. Na verdade, o amor é o nosso ADN espiritual, a canção do nosso oração, a consciência da nossa alma.


HAY, Louise, HOLDEN, Robert, A vida ama-me, s.l., Pergaminho, 2015, p. 23.

O meu amor não cabe num poema

O meu amor não cabe num poema - há coisas assim,

que não se rendem à geometria deste mundo;

são como corpos desencontrados da sua arquitectura

ou quartos que os gestos não preenchem.


O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil

a agitação dos dedos na intimidade do texto -

a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías

nem a candura da mão que protege a chama que estremece.


O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro

que acode aos lábios como a urgência de um beijo

ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão

laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios

de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,

ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.


O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras

com a nudez do teu nome - é um fantasma que estrebucha

no dédalo das veias e sangra quando o encerram  em metáforas.

Um verso que o vestisse definharia sob a roupa

como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema

podia ser o chão da sua casa.


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 94.