terça-feira, 28 de agosto de 2018

domingo, 19 de agosto de 2018

Évora vista da Sé

 
 

Colmeia - verso

Disse-me outro dia um amigo meu, entomologista, que para produzir um quilo de mel uma colmeia tem de recolher o pólen de cinco milhões de flores. Pergunto-me, pensando neste enorme esforço, quantos livros precisou Baudelaire de ler, e quantas vidas teve de viver, para escrever um único verso.

AGUALUSA, José Eduardo, Nação crioula, 6.ª edição, Alfragide, D. Quixote, 2008, p.119.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Arriba

Podes sentar-te nas verdes arribas do teu país e olhar o mar em redor. Não há um barco a partir, não há um barco a chegar. Só uma grande mancha de espuma a desfazer-se na areia. Alguém abriu os braços em cruz. Alguém se oferece às ondas, à grande onda que vem para te levar. Não é preciso nadar nem caminhar sobre as águas. Uma onda te leva por sobre o mar, por sobre a espuma. Tu mesmo te estás a ver do cimo de uma verde arriba do teu país.

ALEGRE, Manuel, Tudo é e não é, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2013, p.81.

sábado, 11 de agosto de 2018

Conceito do mundo

Tudo para nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós.

PESSOA, Fernando, Palavras do Livro do Desassossego, Vila Nova de Famalicão, Edição Libório Manuel Silva, 2013, p. 45.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Évora


Verdes campos



Évora em Maio

Rio Tejo

Visto da Porta do Sol, Santarém

Traição e honestidade feminina

A minha única honestidade agora devia ser conservar-me cativa daquele sentimento. A minha única absolvição estava na verdade da minha paixão. Quanto mais me separasse do mundo e me desse ao meu amor, mais me aproximava da dignidade. Nas situações definidas e corajosas há sempre um lado honesto; o que repugna ao instinto casto são as conciliações hipócritas. A posição que me restava, o dever que me restava, a virtude que me restava, era ser de Rytmel, só dele e para sempre; e eu sentia que ele se ia lentamente afastando de mim como eu me afastava de meu marido.

QUEIRÓS, Eça de, ORTIGÃO, Ramalho, O Mistério da estrada de Sintra, Lisboa, Biblioteca de Editores Independentes, 2010, pp. 241-242.