quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Do século XIII ao XX




No século treze, havia os comerciantes, os padres e os soldados. No século vinte, já não há senão os comerciantes. Estão nas suas lojas, como padres nas suas igrejas. Estão nas suas fábricas, como soldados nos seus quartéis. Espalham-se pelo mundo, graças ao poder das suas imagens. Encontrámo-los sobre os muros, nos ecrãs, nos jornais. A imagem é o seu incenso, a sua espada. O século treze falava ao coração. Não tinha necessidade de falar alto, para se fazer ouvir. Os cantos da Idade Média fazem pouco mais ruído do que a neve a cair sobre a neve. O século vinte fala aos olhos e, como a vista é um dos sentidos mais volúveis, é preciso berrar-lhe, gritar com luzes violentas, cores ensurdecedoras, imagens desesperantes, à força de serem alegres, imagens porcas, à força de serem asseadas, esvaziadas de toda e qualquer sombra e de todo e qualquer desgoto. Imagens incoloravelmente alegres. É que o século vinte fala para vender e, por conseguinte, precisa de lisonjear os olhos – lisonjeá-los e cegá-los ao mesmo tempo. Deslumbrá-los. O século treze tem muito menos para vender – Deus não tem preço, não tem mais valor comercial do que um floco de neve que cai sobre os milhares de outros flocos de neve.
BOBIN, Christian, Francisco e o Pequenino, Braga, Editorial A.O., 2013, p. 109.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Os homens têm medo das mulheres




Os homens têm medo das mulheres. É um medo que lhes vem de tão longe como a vida. É um medo do primeiro dia, que não é apenas medo do corpo, do rosto e do coração da mulher, mas que é também medo da vida e medo de Deus.

BOBIN, Christian, Francisco e o Pequenino, Braga, Editorial A.O., 2013, p.83.

O que há de grande em Portugal?


Em Portugal, há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-o-Montes e o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento. Províncias irmãs pela semelhança de certos traços humanos e telúricos...
 
TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya,2015, p. 83.

Bugio lá longe



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A geometria dos telhados

Viana do Alentejo

Para cá do Tejo


Aqui nestas terras para cá do Tejo, os espaços são imensos; as solidões e as ausências marcam a linha dos horizontes e no abarcar dos olhos situa-se um mundo de ansiedades. Tudo que é vivente submete-se à planície e as distâncias apenas parecem encurtadas pela curva sinuosa a que um ribeiro obriga o passo da alimaria ou do pobre de Cristo que regressa a penantes.
Não admira, pois, que o criado e vivido nestes espaços o homem aqui do sul, de São Mamede a Espinhaço de Cão, tenha as ambições e o sonho merecido da grandeza do habitat onde abriu os olhos. (...)
Extenso é o seu mundo e árdua a sua tarefa; sem cansaços nem queixumes suporta os braseiros do Verão ou na volta do solstício as frias madrugadas. 

PIÇARRA, Manuel Madeira, Sala 1 2.º Direito - o tempo e a memória, Évora, Edições Diário do Sul, 1991, p. 272.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Amor

Todo o amor é um modo de sofrer, porque é o querer dar o que se não pode dar, e pedir o que se não pode receber. Se amares, vir-te-á a amargura de não ter achado nada, tendo-te perdido a ti mesmo.
 
PESSOA, Fernando, O eremita da serra negra, O mendigo e outros contos, Porto, Assírio e Alvim, 2012, p. 52.

O amor perdoa tudo?

O amor perdoa tudo, excepto a  ausência voluntária; é que esta é o pior dos suplícios. Em lugar de se passar o tempo numa doce fantasia e de se estar inteiramente ocupada a ponderar as razões que se tem para amar o seu amante, a vida é agitada por dúvidas cruéis.

STENDHAL, A Abadessa de Castro, Lisboa, Editorial Teorema, 1997, p. 35.

Amor

... só depois de um amor nascer é que sabemos se vai durar. (...) O amor não é um acto de fé: é uma construção entre dois seres humanos, feita de emoções,  palavras, toques, cheiros, presenças e também sexo. Se nada disso tem oportunidade de existir, não é possível haver amor, e sem ele não há um futuro possível. Podemos desejar alguém que ainda não possuímos, mas não amamos essa pessoa, pois amar é querer estar junto de alguém e não podemos amar quando não estamos.

AMARAL, Domingos, Verão Quente,  Alfragide, 3.ª edição, 2015, p. 128.

Vão orgulho

Neste mundo vaidoso o amor é nada,
É um orgulho a mais, outra vaidade,
A coroa de louros desfolhada
Com que se espera a Imortalidade. (...)

ESPANCA, Florbela, Eu não sou de ninguém - Poesia de Florbela Espanca, Coimbra, 3.ª edição, Alma Azul, 2007, p. 19.

Love in Estoril

Praia do Tamariz

Amor

... o amor não é uma criação literária, é um facto da natureza: como tal produz direitos, origina deveres. E os direitos do amor não os abdico.

QUEIRÓS, Eça de, ORTIGÃO, Ramalho, O Mistério da estrada de Sintra, Lisboa, Biblioteca de Editores Independentes, 2010, p. 243.

Love in Lisbon

Em frente ao Maat

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Os banidores de Deus

- Os senhores pretendem banir Deus do Universo - lamentava o santo homem. - A barricada, a guilhotina, a Internacional, a proclamação do povo contra o poder são sinais aterradores que afligem a idade moderna. O nosso século entregou-se à hidra revolucionária como o Ajax da tragédia antiga às Euménides furiosas.

AGUALUSA, José Eduardo, Nação crioula, 6.ª edição, Alfragide, D. Quixote, 2008, p. 31.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Alentejo

Beleza que nos deixa sem palavras

Paço dos Alcaides









Estas ruínas do edifício, também conhecido com Paço Real, é o que resta da residência medieval dos alcaides da vila de Montemor-o-Novo. Tinha forma rectangular, dois pisos e estava protegido pelas torres circulares que ainda existem. Aqui se reuniram cortes e se decidiram acontecimentos históricos como a instalação da Universidade de Coimbra e a partida de Vasco da Gama para a Índia. Mais um motivo para visitar este belo castelo.

Fonte: Folheto municipal.