sábado, 25 de dezembro de 2010

Conto de Natal

Évora, 2010
Nesse ano, o Menino Jesus, que o padre deu a beijar no dia de Natal, na arruinada capela do lugar, foi um menino vivo, um menino de carne e osso (...)
Nasceu o menino quando o galo cantou pela primeira vez. A parteira, uma comandrona mais velha do que a sé de Braga, já sabia que tinha de embrulhar o menino muito bem embrulhado num xale e levâ-lo para longe do povo para o enjeitar (...)
Na memorável consoada a que me reporto, enquanto a governanta gemia, num cabo da casa, com as dores do parto, a parentela do comendador, com o freio bem tirado, caía em pesao na sala de jantar. Quem animava os novos a comer eram as velhas, pois diziam, com muita convicção e muita experiência: na noite de Natal, nada faz mal. (...)


CORREIA, João de Araújo, Conto do Natal, Contos bárbaros, 2.ª edição, Lisboa, Editorial Verbo, 1972, p.p. 113-116.

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