Há muito que a vida lhe decorria quase sem vontade própria, como um pau pelo rio abaixo. A lei era: não agir por força da sua vontade. Pelo contrário: esforçar-se por se manter no ponto de abandono às acções exteriores. Qualquer impulso da vontade própria, qualquer caminho para que não fosse chamado por uma voz exterior, o fazia sofrer. Sentia que se tinha desviado da senda verdadeira. E contudo, movia-se, ora suave, ora violentamente, como as vidas fortes. A única coisa que fazia por si era andar pelos caminhos do mundo, para que os outros, e a chuva e o sol e o vento, lhe dessem encontrões. Agora ali ia...
FONSECA, Branquinho da, O Involuntário, Rio Turvo, Lisboa, Editorial Verbo, s.d., p. 136.
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