quarta-feira, 1 de março de 2017

Vai-te embora ó papão

Vai-te embora ó papão
de cima desse telhado.
Por causa de ti papão
está Portugal desgraçado

Está Portugal desgraçado
e sem se poder valer
por causa de ti, papão!
Até custa a perceber.

Até custa a perceber
mas, ai é certo, é certinho,
por causa de ti, papão,
está Portugal pobrezinho.

Está Portugal pobrezinho
e numa angústia tamanha
que dos Algarves ao Minho
não há mal que não venha.

Não há mal que não venha
nem trigo que lhe dê pão
nem pinheiro que dê lenha
por causa de ti, papão!

Papão, não será que, às vezes,
nesses teus olhos gelados, 
há vultos de portugueses
assustados, assustados?

Por tudo o que já lá vai
por tudo o que vem aí
e por ti próprio, papão,
vai-te, vai-te, sai daí!


Alexandre O' Neill in CESARINY, Mário, As Mãos na água, a cabeça no mar, Assírio & Alvim - Porto Editora, 3.ª edição, Porto, 2015, p. 322.

Sem comentários: