E todos tinham uma língua igual
ciosamente amada por noites de luar,
por dias claros
Com ela nomeavam os sentidos
das coisas sem sentido antes de ser,
por ela se espalhavam na memória,
pois a memória era também de todos
e a todos preenchia o pensamento.
E se o céu era alto e eles fortes
no poder todo que a palavra dá.
e se o céu oferecia habitação
Às aves e às nuvens e ao sol,
porque não conquistá-lo em desafio
profano?
Diz-se que a punição surgiu precisa
em exacta medida para o crime,
que a confusão cresceu junto às palavras,
ensombrado o silêncio outrora amado,
descompassado nos dias
e as coisas
Diz-se que a punição se cumpriu justa
no divino saber
Mas foi decerto
gesto de ciúme e
talvez quem sabe afirmação de quem
já não tem demais céus
a conquistar
AMARAL, Ana Luísa, Ágora, Porto Assírio e Alvim, 2019, p.p. 101-102.
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