sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Teu riso

Teu riso, à despedida:

Um girassol

Que ama o escuro


Xpto 

COUTO, Mia, Tradutor de chuvas, 3.a edição, Alfragide, Editoral Caminho, p. 36.

Cansei de esperar

Talvez gostes da ruiva colorida 

Já que no jantar a achei tão solícita

Ou da Maria

Com quem disfarçaste o espetacular 

Gostas de todas

Gozas com todas?

Divido-te

Na condição de protecção 

Não estranho amares libertação 

Ciúme sinto da lunadevoção

Já que com ela vejo preocupação 

Eu farto-me de em ti pensar

Tenho de fechar o coração 

E racionar

contigo, sei que não há jantar

nem passear

por não ter um único dia

De direito à tua companhia

Não pedia

Mais nada

mas nem algo tão simples deixa de pertencer ao mundo dos sonhos...

Adoro o teu abraçar 

mas até isso me faz desesperar

porque explicações foram a multiplicar 

mesmo sem eu gostar

preferia aulas 

decidi dedicar à matéria dada

Por isso rejubilar

Mas a dor 

de sentir a escuridão nestas noites longas de inverno...

é demasiado forte

cansei de esperar 

decidi parar

Nunca te irei odiar 

Tiveste o dom de despertar 

a borboleta 

por isso sei que pelo menos tu serás feliz

quem consegue destronar a desconfiança 

terá sempre sucesso na dança 

E eu tentarei

Amar-me a mim mesma

contigo, aprendi uma lição 

amar é libertar 

Só há mentira na canção 

Ninguém é feliz ao amar por dois

Tento esquecer-te para não pensar


Xpto 


Os pavões também gostam de bolo de chocolate


 Jardim Público de Évora 

Museu Amílcar Cabral




























 Cidade da Praia, ilha de Santiago 

Recordação

A noite desce para nós. Nela o que se perde? De início a luz, mas também a sombra. Depois escutamos pelas veias o murmúrio do sangue, a despedida se quem se aproxima para estar mais longe ao chegar. É assim uma recordação...


Guimarães,  Fernando in A mais frágil das moradas - poemas à memória de Eduardo Lourenço, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, p. 44.

Cargueiro a passar




 Pela ilha de Santiago 

Rua da Moeda


Évora 

 

Cuscovilhando


 

E tudo foge...




E tudo foge, fogem

As gaivotas 

Fogem as nuvens

fogem os ventos

As sombras 

a areia, a própria 

água se recolhe

em suma, fogem

todos os outros elementos 

e até me foge, ao controle

O mecanismo, tão  bem

interiorizado

dos meus

desorientados 

passos 

(...)


BUENO, A. B., O sentido litoral, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, pp. 88-89.