segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MONSTROS

Igreja dos Meninos da Graça, Évora


Porque se povoam os mosteiros de monstros, de leões, de grifos, de demónios esgoleados, de frutas redondas, de pequenos símios provocantes? De cada canto dessa reserva da alma, aparecem, mais do que as figuras compensadoras da redenção, os seus inimgos e os desvarios do temor humano. Nunca estamos sós com os anjos e os deuses, sem que a multidão assobiante da nossa realidade animal venha convocar-nos para girar em torno de nós mesmos. E há algo de potente e sagrado nessa forma grotesca do homem pecador, babando-se, contorcendo-se, caindo sobre as mãos calosas, escoiceando o ar, empunhando tridentes e formando o salto sobre os espaços.



LUÍS, Agustina Bessa, Casa morta e pia baptismal, A Brusca, Lisboa, Editorial Verbo, 1971, p. 120.

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