quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

BONDADE

Como leitores apreciamos um livro quanto nos identificamos com a sua escrita. Voltei a ler um clássico para me abstrair do presente e logo no início da obra identifiquei-me com esta personagem! Acho que Voltaire teria gostado de me conhecer ;)

E coincidência das coincidências a personagem principal Zadig, tem uma vida muito conturbada devido à inveja dos outros pela sua bondade. Porque será que este sentimento não se extinguiu já?

No tempo do rei Moabdar havia em Babilónia um jovem chamado Zadig, que viera ao Mundo com uma bondade natural, fortalecida pela educação. Conquanto rico e jovem, sabia moderar as suas paixões; não se dava ares alguns; não tinha a pretensão de ter sempre razão e sabia respeitar a fraqueza dos homens. Causava o espanto de toda a gente o facto de, sendo ele dotado de tanto espírito, nunca se lembrar de insultar com zombarias no género dessas frases tão vagas, tão variadas, tão tumultuosas, dessa maledicência temerária, dessas decisões de ignorância, dessas chalaças grosseiras, desse zumbido de palavras a que em Babilónia se dava o nome de conversa. O amor-próprio é um balão cheio de vento de que brotam tempestades quando porventura se lhe dá uma picada.

VOLTAIRE, O Zarolho, Zadig ou o destino – História Oriental, Lisboa, Editorial Verbo, 1972, p.9.

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