quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Para cá do Tejo


Aqui nestas terras para cá do Tejo, os espaços são imensos; as solidões e as ausências marcam a linha dos horizontes e no abarcar dos olhos situa-se um mundo de ansiedades. Tudo que é vivente submete-se à planície e as distâncias apenas parecem encurtadas pela curva sinuosa a que um ribeiro obriga o passo da alimaria ou do pobre de Cristo que regressa a penantes.
Não admira, pois, que o criado e vivido nestes espaços o homem aqui do sul, de São Mamede a Espinhaço de Cão, tenha as ambições e o sonho merecido da grandeza do habitat onde abriu os olhos. (...)
Extenso é o seu mundo e árdua a sua tarefa; sem cansaços nem queixumes suporta os braseiros do Verão ou na volta do solstício as frias madrugadas. 

PIÇARRA, Manuel Madeira, Sala 1 2.º Direito - o tempo e a memória, Évora, Edições Diário do Sul, 1991, p. 272.

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