O amor não é uma descoberta de alquimistas. Não foi Eros que inventou o amor. Fomos nós. Construímos caminhos, vamos por eles, lado a lado, vencendo obstáculos, vencendo dificuldades, entregando-nos um ao outro nas coisas mais banais. Ficamos felizes pelas vitórias do outro, solidários na mágoa, sempre inteiros na dádiva. Respondemos com um abraço ao abraço, com um afago à lágrima, com um beijo à alegria. E continuamos assim, sem parar. É esta a construção do verdadeiro amor. Crescer quando o outro cresce, partilhar o sofrimento quando a caminhada dói mais, não deixar que nenhum caia, apoiando-se quando vergam para voltar a endireitar a coluna e andar mais, amar mais, até à entrega final e definitiva, quando de tanto viver e de tanto amar só resta cinza. Somos cinza da mais extraordinária fogueira, feita de chamas cadentes, que deu sentido à vida.
FLORES, Francisco Moita, Mataram o Sidónio!, Alfragide, Leya, 2014, p. 180.
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