Descodificado
pela luz que constitui uma das preocupações na concepção romântica do
escultor Vítor Bastos, o Monumento a Camões nasce de um plinto
octogonal, articulando, nos seus vértices, oito personalidades que se
projectam soltas, assentes noutros plintos. Idealizadas nas respectivas
vidas e obras, trajados na moda do seu tempo, são elas Fernão Lopes,
Jerónimo Corte-Real, Fernão Lopes de Castanheda, Francisco de Sá
Menezes, Gomes Eanes de Zurara, Vasco Mouzinho de Quevedo e João de
Barros, homens de letras e cronistas, à excepção de Pedro Nunes que
dedicou a sua vida à física e à matemática.
Revestidas de uma volumetria
própria e de um reflexo ostentado nas suas múltiplas sombras, perfis de
descoberta que a luz do dia vai desenhando, observam-nos. Somente
quando cai a noite fixam os seus contornos, iluminadas que estão por uma
luz artificial e sedentária, descansando na imobilidade
semi-adormecida. Quase como que num carrossel, a todo o momento
induzimos o seu movimento perpétuo à volta do seu eixo, impelindo-nos
uma vontade de as percorrer.
Impõe-se a figura de Camões, rematando o
octógono símbolo da eternidade que os textos transportam à memória. Da
mesma forma que as figuras se fundem no topo desse plinto, tornando as
partes no todo, também o olhar descendente evidencia o ser lírico,
épico, satírico, no estar clássico que o renascimento fez emergir.
Camões contagia de atmosferas todas as figuras que de si se decompõem.
Solitário e imóvel, observa o casario da praça, num equilíbrio de
conjunto exemplar na cidade, resultante da concepção propositada para o
efeito.
A demolição dos «casebres do Loreto» e a sugestão do artista, em
adequar o lugar para a recepção do monumento, levou o município a
aceder de imediato ao solicitado, ora sob a nova designação Praça Luís
de Camões. Envolvendo-se nela, com a espada que lhe prolonga o braço,
prende-se aos Lusíadas que retém ao peito, aglutina na harmonia as
ambiências de boémia e erudição.
Esta peça celebra o poeta Luís Vaz de
Camões, verdadeiro expoente do Renascimento, congregando a nossa
atenção, noite e dia, nas sombras, nos volumes e nas dinâmicas e
absorvendo-nos naquilo que a obra escultórica conseguiu resumir da
palavra, convocada na leitura que é, sempre, oportuno retomar.
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