sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Monumento a Luís Vaz de Camões



Descodificado pela luz que constitui uma das preocupações na concepção romântica do escultor Vítor Bastos, o Monumento a Camões nasce de um plinto octogonal, articulando, nos seus vértices, oito personalidades que se projectam soltas, assentes noutros plintos. Idealizadas nas respectivas vidas e obras, trajados na moda do seu tempo, são elas Fernão Lopes, Jerónimo Corte-Real, Fernão Lopes de Castanheda, Francisco de Sá Menezes, Gomes Eanes de Zurara, Vasco Mouzinho de Quevedo e João de Barros, homens de letras e cronistas, à excepção de Pedro Nunes que dedicou a sua vida à física e à matemática. 

Revestidas de uma volumetria própria e de um reflexo ostentado nas suas múltiplas sombras, perfis de descoberta que a luz do dia vai desenhando, observam-nos. Somente quando cai a noite fixam os seus contornos, iluminadas que estão por uma luz artificial e sedentária, descansando na imobilidade semi-adormecida. Quase como que num carrossel, a todo o momento induzimos o seu movimento perpétuo à volta do seu eixo, impelindo-nos uma vontade de as percorrer.

Impõe-se a figura de Camões, rematando o octógono símbolo da eternidade que os textos transportam à memória. Da mesma forma que as figuras se fundem no topo desse plinto, tornando as partes no todo, também o olhar descendente evidencia o ser lírico, épico, satírico, no estar clássico que o renascimento fez emergir. Camões contagia de atmosferas todas as figuras que de si se decompõem. Solitário e imóvel, observa o casario da praça, num equilíbrio de conjunto exemplar na cidade, resultante da concepção propositada para o efeito. 

A demolição dos «casebres do Loreto» e a sugestão do artista, em adequar o lugar para a recepção do monumento, levou o município a aceder de imediato ao solicitado, ora sob a nova designação Praça Luís de Camões. Envolvendo-se nela, com a espada que lhe prolonga o braço, prende-se aos Lusíadas que retém ao peito, aglutina na harmonia as ambiências de boémia e erudição. 

Esta peça celebra o poeta Luís Vaz de Camões, verdadeiro expoente do Renascimento, congregando a nossa atenção, noite e dia, nas sombras, nos volumes e nas dinâmicas e absorvendo-nos naquilo que a obra escultórica conseguiu resumir da palavra, convocada na leitura que é, sempre, oportuno retomar.

Fonte: Maria Bispo in  http://www.lisboapatrimoniocultural.pt/artepublica/eescultura/pecas/Paginas/Adamastor.aspx

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