A nossa espécie –
continuou – tem fraca memória. Esquecemo-nos de quase tudo. Muitas
vezes, por outro lado, julgamos lembrar-nos de coisas que nunca nos
aconteceram. Coisas que lemos, que aconteceram a outros, ou que alguém
nos contou. Certos peixes esquecem-se de onde vieram no curto instante
que levam a percorrer um aquário. O aquário é para eles, dessa forma, um
espaço infinito, novo a cada instante, cheio de surpresas e de
diversidade. Cada volta que dão parece-lhes uma experiência inédita.
Connosco passa-se algo semelhante. A natureza criou o esquecimento para
que nos seja possível suportar o terrível tédio deste minúsculo aquário a
que chamamos vida.
AGUALUSA, José Eduardo, Um estranho em Goa, 5.ª edição, Lisboa, Cotovia – Fundação Oriente, 2006, p. 97.
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