Não, eu não consigo ver o Algarve senão como a miragem dum céu deste mundo, sem
nenhum dos atavios que aviltam a condição dum céu. A ideia que tenho de um
paraíso terrestre, onde o homem possa viver feliz ao natural, vem-me dali.
Casas cujos telhados, nem de colmo, nem de lousa, sejam açoteias de harém para um
amor livre e espontâneo ao luar; gente que não se cubra de croças nem de
pelicos, mas ponha a sombra preguiçosa dum guarda-sol sobre a quentura do
corpo; e figueiras pequeninas, anãs, sem toco, onde nenhum Judas se possa
enforcar de remorsos. Um paraíso em que a maceração cristã não entre de maneira
nenhuma.
TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, p. 93.
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