terça-feira, 16 de julho de 2019

O infinito do Alentejo

Odemira

A seus pés desdobra-se o extenso palco do seu destino: a infindável planície a que dá a vida e movimento. São os rios e os ribeiros secos que faz transbordar de suor, os negros montados que alegra de vez em quando pintando de de vermelho cada sobreiro, a sua casinha escarolada e erma como uma mimosa na botoeira, e as searas que ondulam e reverberam num aceno de abundância. Um mundo livre, sem muros, que deixou passar todas as invasões e permaneceu inviolado, alheio às mutações da história e fiel ao esforço que o granjeia. Nenhum limite no espaço e no tempo. Seja qual for o ponto cardeal que escolha a inquietação, terá sempre o infinito diante de si, em pousio para qualquer sementeira. E essa eterna pureza e disponibilidade do solo exalam o ânimo do possuidor.  

TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya,2015, p. 89.

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