quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Inutilidade dos conselhos

Eu não aconselho. Colecciono selos. Para dar conselhos é preciso estar absolutamente seguro de que os conselhos são bons, e para isso é preciso estar certo (o que em absoluto ninguém está) que se está na posse da verdade. E, depois, é preciso saber se esses conselhos se adaptam ao indivíduo a que se estão dando, e para isso é preciso conhecer-lhe a alma toda, o que  nunca se pode dar. E, além disto, ainda há que o modo de dar os conselhos deve ser  exactamente o adaptado àquela alma; aconselham às vezes coisas que não se quer que se façam para, combinadas com elementos outros da alma aconselhada, darem o resultado que se quer. Só gente muito ingénua dá conselhos.
 
PESSOA, Fernando, O filatelista, O mendigo e outros contos, Porto, Assírio e Alvim, 2012, p. 115.

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