Entro no país do teu corpo, e percorro
o seu litoral até à boca subterrânea que abriga
o desejo da viagem que não precisa de outras
paisagens para lá da colina dos seios e da floresta
dos cabelos. O coração, por vezes, reconhece
o horizonte que atravessas no instante do grito;
e os pássaros calam-se, para ouvir, no ar
húmido da tua voz, as palavras que descrevem
a música do amor com o acento exausto
de um fim de manhã. E abres os olhos para
que eu atravesse a fronteira dos teus sentimentos,
e descubra a sua cor secreta, um reflexo de céu
onde o branco e o azul se confundem, e as
palavra, vivas como corolas de uma nova
primavera, correm num leito de frases
que as tuas mãos desarrumam.
JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, P 86.
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