quarta-feira, 9 de março de 2022

Macio? Rugoso?

 Macio: aquele muro tão rugoso,

de cimento amarelo e muito quente,

as histórias faladas em voz rouca,

e eu sem saber como falar de amor.


E eu sem saber como prever as coisas,

e as coisas já sem ser como as pensava.

Bastando alguns segundos, algum sol

infinitesimal, e o já sem ser.


O cimento amarelo: um pó tão fino,

e o calor como fio insidioso.

Bastando alguns segundos, algum frio,


e o muro mais rugoso que macio,

e o cheiro do caramanchão de rosas:

um cheiro a números e a letras mortas.

 

 AMARAL, Ana Luísa, Imagias, Gótica, Viseu, 2002, p. 19.

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