sábado, 5 de novembro de 2022

Desta cadeira

Nesta cadeira me sento,

e nela que me apresento,

mas menos do que me ausento.

tento, lamento, avelhento,

aqui me invento e rebento;

passo gordura de unguento

e alimento o alento

da vida de sono e pão.


Desta cadeira prossigo

para um outro nó pascigo,

já sem perigo nem abrigo,

amigo como inimigo,

com meu já perdido umbigo

de só nascer por castigo:

ali de vez eu te irrigo,

cintilante coração.


TAMEN, Pedro, Memória Indescritível, Lisboa, Gótica, 2000, p. 14.

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