quarta-feira, 30 de abril de 2025

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa


Autoridade é do que é autor.
Só a autoridade confere autoridade.
A autoridade não é uma quantidade.
Todo o homem é teatro de uma inexpugnável autoridade.
Aquele que julga ser possível autorizar ou desautorizar a autoridade de outrem não sabe no que se mete.
Liberdade.
A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais reverbero no mesmo fulgor.
Trocar  liberdade em liberdades é a moda corrente do libertino.
Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada, com cães.  Mas é impossível tirar-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver de um homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro - nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.

 CESARINY, Mário, As mãos na água, a cabeça no mar, Porto, Assírio e Alvim, 2015, p. 84.



25 de Abril, quinta-feira















Casa da Cidade, Almada
2024

quinta-feira, 24 de abril de 2025

A queda da ditadura portuguesa

A queda da ditadura portuguesa em 1974 foi inesperada e o processo de democratização caracterizoi-se por umacrise do Estado, intervenção militar na política e uma súbita rutura com o autoritarismo.  Os fundamentos dos processos de dissolução e punição foram elaborados duranteo período de 1974-1975, quando o país era governado por executivos de coligação anti autoritários e chefiados por militares.  Formas criminais, administrativas e históricos de justiça transicional dominaram o processo português, que foi mais semelhante ao das democratizaçãoes pós-1945, com uma combinação de saneamentos legais e "selvagens", estigmatização  da elite política e policial do regime anterior e uma forte dinâmica  politica e cultural antifascista.

...

O processo de justiça transicional que se desenvolveu durante perto de dois anos a seguir ao golpe de Estado afectou as instituições, a elite, os funcionários públicos e até o sector privado.  A democratização portuguesa caracterizou-se por uma forte rutura com o passado, facilitada pela crise de Estado e pela radicalização política,  enquanto a nova elite política e a sociedade civil pressionavampara a punição e a responsabilização 

...


O saneamento de administrações de de empresas, tanto públicas como privadas, foi rapidamente transformado numa componente da acção colectiva, que assumia cada vez mais características anti-capitalistas, tomando Portugal o único exemplo de justiça transicional "redistribuitiva" na Europa do Sul.

Com o afastamento do poder dos militares simpatizantes do Partido Comunista e com a derrota da esquerda radical em 25 de Novembro de 1975, os saneamentos pararam quase imediatamente.  Em poucos meses, os partidos moderados tinham total controlo da institucionalização da democracia. Com a vitória do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1976, o discurso oficial dos dois  governos constitucionais,  liderados por Mário Soares, e do primeiro presidente eleito democraticamente, Ramalho Eanes, favoreceu a "reconciliação" e a "pacificação", moldando a forma como o Governo lidou com o legado da ditadura.

 PINTO, António Costa (Org.), A Sombra das ditaduras - a Europa do Sul em comparação, Lisboa, ICS, 2013, pp. 31-32.

Chegam-me pensamentos

Chegam-me pensamentos,

Já não lhes sou desconhecida.

Como um campo faminto

Cresço, convertendo-me na sua sede.



ARENDT, Hannah, Poemas, s.l., Sr Teste Edições, 2020, p. 36.

domingo, 20 de abril de 2025

Deus

A energia pura, olhar que só resume

O perfeito equilíbrio que se encontre

Na luz, na terra, na água, em qualquer corpo 

Que sem pressa procurem este início


(...)

GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 108.

sábado, 19 de abril de 2025

Que palavra é essa? Amada

Eu só quero ser amada 

Mas nenhum me deseja sequer uma boa Páscoa 

Sinto-me ignorada

Quando é que me arracam a mágoa?

Não saberei nunca o sentido da palavra...

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Nuvens

Portimão 


Não sei o que hei-de fazer com as nuvens. 

O que me dizem são passagens rápidas 

Sobre as cidades, e às vezes deixam chuva

Outras, sombras na paisagem.


JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, Edições D. Quixote, 2019, p. 18.

Casinhas cada vez mais raras

Rua Infante D. Henrique 


 Portimão 

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Gatos



Não têm qualquer mistério, os gatos 

Somente o olhar um pouco profundo 

Deixando apenas decifrar nas suas formas 

O pardo movimento da sua quietude


pulsam a vida viva contra o coração da casa

respirando o ar do coração do mundo


invadem-nos os sonhos noite adentro

e como pequeninos deuses desocupados 

constroem-nos palavras na boca até amanhecer:


As que nunca diremos pela manhã 


ensinam-nos a arte do silêncio 

e da gratidão.


RIBEIRO, Rui Casal, Escrever a água, Lisboa, Edições Colibri, 2018, p. 77.

Ave de amor diurno

Do mar da tua língua colho o sal

E deixo na acalmia e no teu corpo um sopro inerte

A volúpia veloz e musical de um voo raso


aqui da alma nada sei, das serenas águas 

da forma como as mãos moldam o tempo

do obscuro comércio da felicidade e do segredo 


Na tua língua agora sou o mar

E fora o vento volve o sol em nuvem

a folha em vento, o bosque em mar tranquilo 


aqui nada sei desta paixão, do amor furtivo

da ave que de súbito cruza o corpo, o espaço límpido 

a penumbra azul e pele em redor do olhar verde 


do mar da tua língua colho o sal

músculo a músculo devagar abandono o fogo

e resto em cinza, em pó, em luz quieta


do brilho do teu rosto nada sei

do enigma que é o universo e o teu sorriso branco


penso no fim em nós, na serena morte vã

no que o tempo fará da luz diurna 


do mar  da tua língua colho o sal.

RIBEIRO, Rui Casal, Escrever a água, Lisboa, Edições Colibri, 2018, p. 50.

E o que é mais importante, o amor, nasce e morre sozinho

Fernando Pinto do Amaral in RIBEIRO, Rui Casal, Escrever a água, Lisboa, Edições Colibri, 2018, p. 41.

Beijo

Esse teu beijo

Húmido e saboroso 

que me enlouquece...

Por mais inesperado

E rápido que seja!

Evoluí

Já não fugi

E adorei repetir

A perdição está se a aproximar 

Já não é de amuralhar

Basta travessar


Xpto 


quarta-feira, 9 de abril de 2025

Vilancete

Teus olhos deste: não queiras

Outra esperança, outras maneiras 

Do amor buscado e perdido.


Olhando os corpos que passam,

olhando os olhos num lance

Em busca de outro relance

Da mesma sede... Não queiras

Prender-te aos gestos que façam.

Teus olhos deste: não queiras.


Logo depois é mais tarde,

Na sede sempre mais louca,

Nenhuma imagem não arde,

Todas se esfumam ligeiras,

Nada lembras... e é tão pouca

Outra esperança... outras maneiras!


Olhando os olhos num lance,

A vida entregas, vencido,

Em busca de outro relance

Do amor buscado e perdido.


SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 35.

sábado, 5 de abril de 2025

A viagem das gravatas




 Exposição de Maria José Paixão na Biblioteca Pública de Évora 

Tempo

Tempo

O arquitecto do acaso.


GUIMARÃES, João Luís Barreto, Movimento, Lisboa, Quetzal, 2020, p. 13.


quinta-feira, 3 de abril de 2025

A morte ninguém quer, ninguém quer renascer

MOURA, Vasco Graça, O Poema sobre o desastre de Lisboa de Voltaire, Lisboa, Aleteia Editores, 2005.

terça-feira, 1 de abril de 2025

O silêncio sempre tem sido o meu grito mais alto

LOVELACE, Amanda, Aqui a princesa salva-se sozinha, Alfragide, Oficina do Livro, 2019, p. 42.

A História, a Verdade e a Escravatura

(...) a História não tem que ver  com opções políticas, não tem que ver com preto ou branco, mas sim com a  verdade. É  isso que os historiadores prezam (ou deviam prezar). E a verdade é que a história da escravatura foi feita sobretudo por brancos.

MARQUES, João Pedro, Combates pela verdade - Portugal e os escravos, Lisboa, Guerra e Paz, 2020, p.187.

Um livro

Passarei por todos, até pelos que não li (sobretudo por esses) e direi, fechando os olhos como um livro

Que vou finalmente meditar no silêncio 

No silêncio, que só vocês, livros me ensinaram.


TORRADO, António, Das coisas interiores, Lisboa, Glaciar, 2022, p. 228.