quinta-feira, 24 de abril de 2025

A queda da ditadura portuguesa

A queda da ditadura portuguesa em 1974 foi inesperada e o processo de democratização caracterizoi-se por umacrise do Estado, intervenção militar na política e uma súbita rutura com o autoritarismo.  Os fundamentos dos processos de dissolução e punição foram elaborados duranteo período de 1974-1975, quando o país era governado por executivos de coligação anti autoritários e chefiados por militares.  Formas criminais, administrativas e históricos de justiça transicional dominaram o processo português, que foi mais semelhante ao das democratizaçãoes pós-1945, com uma combinação de saneamentos legais e "selvagens", estigmatização  da elite política e policial do regime anterior e uma forte dinâmica  politica e cultural antifascista.

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O processo de justiça transicional que se desenvolveu durante perto de dois anos a seguir ao golpe de Estado afectou as instituições, a elite, os funcionários públicos e até o sector privado.  A democratização portuguesa caracterizou-se por uma forte rutura com o passado, facilitada pela crise de Estado e pela radicalização política,  enquanto a nova elite política e a sociedade civil pressionavampara a punição e a responsabilização 

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O saneamento de administrações de de empresas, tanto públicas como privadas, foi rapidamente transformado numa componente da acção colectiva, que assumia cada vez mais características anti-capitalistas, tomando Portugal o único exemplo de justiça transicional "redistribuitiva" na Europa do Sul.

Com o afastamento do poder dos militares simpatizantes do Partido Comunista e com a derrota da esquerda radical em 25 de Novembro de 1975, os saneamentos pararam quase imediatamente.  Em poucos meses, os partidos moderados tinham total controlo da institucionalização da democracia. Com a vitória do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1976, o discurso oficial dos dois  governos constitucionais,  liderados por Mário Soares, e do primeiro presidente eleito democraticamente, Ramalho Eanes, favoreceu a "reconciliação" e a "pacificação", moldando a forma como o Governo lidou com o legado da ditadura.

 PINTO, António Costa (Org.), A Sombra das ditaduras - a Europa do Sul em comparação, Lisboa, ICS, 2013, pp. 31-32.

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