segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Conselhos de pai

E procura reter na memória estas poucas regras. Não espalhes as tuas ideias nem executes coisa nenhuma sem pensar. Sê simples, mas nunca vulgar. Os amigos que escolheres, depois de teres provas da sua amizade, prende-os à tua alma com uma cadeia de aço, mas não dês apertos de mãos amigáveis ao primeiro desconhecido que te apareça pela frente. Não te metas em questões; mas, se isso acontecer, procede de forma que seja o teu adversário a ter medo de ti. Dá ouvidos a todos, mas a poucos as falas. Escuta a opinião de toda a gente, mas segue só a tua. Que a roupa que usares seja tão cara quanto o permita a tua bolsa, mas sem afectação. Luxuosa, mas não extravagante, porque o hábito faz o monge (...) Não emprestes nem peças dinheiro emprestado a ninguém, pois aquele que empresta acaba por perder tanto o dinheiro como o amigo, e o que pede emprestado prova que é fraco em economia. E sobretudo isto: sê sincero para contigo próprio, e dai virá, como a noite vê a seguir ao dia, que não poderás ser falso para ninguém.

SHAKESPEARE, William, Hamlet, Editorial Verbo,1972, p. 33.

1 comentário:

Isabel Ritto disse...

Muito bonito!
Talvez "conselhos de mãe" fosse um título mais apropriado.