Esta tragédia alastrava como um pesadelo medonho, que envolvia uma das mais esplendorosas obras que identificava Lisboa, graças ao talento de homens como Manuel da Maia e dos arquitectos Custódio Vieira e Carlos Mardel. Tinha um século de existência e aguentou o terrrível terramoto que destruiu a cidade e matou milhares de infelizes, altivo, imponente, e, segundo se proclama, com os maiores arcos ogivais do mundo. Diz quem o conheceu por dentro que, de cada lado do fio de água, tem dois carreiros estreitos para que o povo das hortas e quintas de Benfica e de Monsanto posssa chegar a Lisboa sem necessidade de galgar colinas e saltar ribeiras, sendo um dos caminhos públicos mais afamados do Reino. e é precisamente esta pérola, a qual enobrece Lisboa, que o galego ensaguenta com os seus bárbaros crimes, para roubar pobres, tão pobres que os cães vadios têm compaixão deles.
FLORES, Francisco Moita, Segredos de Amor e Sangue, Alfragide, Casa das Letras, 2.ª edição, 2014, pp. 136-137.
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