O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. Dentro dele nunca me
considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana
(...) Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros.
Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa! (...)
No
fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de
Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era
centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente
dentro da pátria. Também não me vejo fora dela. Julgo-me numa espécie de limbo
da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril. A terra não hostiliza os
pés, o mar não cansa os ouvidos, o frio não entorpece os membros, e os frutos
são doces e sempre à altura da mão.
TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya,2015, p. 91.
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