quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Enganosos e mesquinhos



É que ainda persistem, no Alentejo, aqueles tipos de homens muito metidos em si, enganosos, mesquinhos, desconfiados com tudo que os rodeia, egoístas, autoritários, reis sem coroa a abusarem da consciência alheia, e que exigem, mandam e castigam carreiros de gente, isolados da humanidade, que têm horror ao progresso porque o progresso os confunde, que minimizam o trabalho de quem os serve porque o trabalho os enerva, pagando mal ao campaniço e ao artista, chorando os tostões que entregam a quem lhes põe no bolso fortunas. Espreitam pelos cortinados da janela o espectáculo desolador de áreas abandonadas, ou as ruas das vilas, a ver se passa  alguma pessoa que lhes incomode a vista e dificulte a saída do Mercedes da garagem…  

SILVA, Antunes da, Suão, Livros Horizonte, Lisboa, 7.ª Edição, 1985. p. 9.

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