Mas deixe que lhe diga uma coisa. Não acredite muito no que dizem os escritores: eles estão quase sempre a mentir (dizer mentiras). Disse um escritor de língua espanhola que você talvez conheça, Mário Vargas Llosa, que escrever um conto é uma cerimónia semelhante ao "sritp-tease". Como a rapariga que, sob impudico projector, despe as roupas que traz e mostra as suas graças secretas, também o escritor desnuda em público a sua intimidade através dos seus contos. Há, evidentemente, diferenças. O que o escritor exibe de si próprio não são as suas graças secretas, como a desenvolta rapariga, mas sim o fantasmas que o assediam, a parte mais feia de si próprio: as suas nostalgias, as suas culpas e os seus rancores.
TABUCCHI, António, Os voláteis de Fra Angelico - Sonhos de sonhos - Os três últimos dias de Fernando Pessoa, D. Quixote, Alfragide, 2015, p. 48.
Sem comentários:
Enviar um comentário