quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Outono


  O Outono anda enfeitado de viúvo, como um cego a dedilhar numa viola. Os céus têm tons nacarados e às vezes transforma-se em densas escuridões, antecedendo a época pluvial. As folhas caídas das árvores, à deriva, invadem os passeios, goza-se o Outono na magreza do clima, a vê-lo nas margens das lagoas dos montes e em certos riachos. Os ventos bailam. Ao rés dos beirais. Ou rugem nas distâncias, lembrando sons de batuques na fronteira do Alentejo com a do Algarve.  

SILVA, Antunes da, Alentejo é sangue, Porto, 3.a edição, Livros Horizonte, 1984, p. 260.

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