sexta-feira, 19 de maio de 2023

Quero-te!

 SIM, pudera eu gritá-lo a toda a gente,

Quero-te! - e o grito morre-me no peito.

Meu olhar se te esquiva contrafeito.

Morde-me a boca um riso de demente...


E nem tu própria o vês! e ninguém sente

Com que tremor te acerco, sigo, espreito....!

O fervor com que em sonho a mim te estreito,

Parece que o escondo facilmente.


Cegos! O riso que me morde aboca 

Desce a dentro de mim, corrói-me a alma

Como uma chama oculta, verde e louca.


Mas eu, parece, eu mostro, eu fruo a calma

Dos que acham esta vida inane e pouca,

...Sonhando empunhar noutra a eterna palma.


 RÉGIO, José, Biografia, 6.ª edição, Guimarães, Ópera Omnia, 2020, p.27.

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