quarta-feira, 30 de julho de 2025

Mercado de Culturas à luz das Velas










 Lagoa, 5 de Julho de 2025

Ode a uma criança

 Tu és o futuro, linda criança,

Criatura bela e imaculada.

E trazes contigo a esperança, 

De seres neste mundo amada.


Mas reparo em ti e vejo mais,

Nesse teu sorriso inocente.

Vejo o amparo dos teus pais,

E dos pais de outra gente.


Do teu coração emana a pureza,

da maior riqueza do mundo.

onde se abriga a singeleza,

do teu amor profundo.


Por isso, linda criança,

Te invoco nas minhas preces,

A Deus nosso Senhor,

para que haja um mundo de Esperança,

Mais harmonioso e melhor,

Onde encontres o que mereces,

para crescer e viveres, em paz e amor.


RODRIGUES, João de Deus, Como era linda a primavera!, Lisboa,  Edições Colibri, 2021, p. 88.

Para a Margarida 

Cada árvore é um ser para ser em nós

Passadiço da Comporta 

Cada árvore é um ser para ser em nós 

Para ver uma árvore não basta vê-la

A árvore é uma lenta reverência 

uma presença reminiscente

uma habitação perdida

e encontrada

À sombra de uma árvore 

O tempo já não é o tempo

mas a magia de um instante que começa sem fim

a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas

e de sombras interiores 

nós habitamos a árvore com a nossa respiração 

Com a da árvore 

Com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses 

ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 319.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Querido amigo Evaristo

Está visto

Mora aqui o Evaristo 

Vou saber se tem cá disto.

(...)

querido amigo Evaristo 

Tu tens por cá montes disto

(...)

E é isto.

Obrigado ó Evaristo

Afinal tu tens cá disto

(...)


Dedico este poema ao meu pai, no seu 90.o aniversário


TORDO, Fernando, Não me tapes o caminho em frente, mesmo que não vá dar ao futuro, Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2021, p. 38.

A chave

Seguras nela porque sabes que te defende.

É um espaço só teu, aquele onde tu habitas,

O círculo que se torna único, o interior

de uma palavra. Encontra-se mais próxima 

para que possas estar agora acompanhado,

junto de quem te procura. Talvez não saibas,

mas o que ela guarda principia a pertencer-te

como se a tua voz o dissesse. Ela sustenta 

o ar para que respires. Sente-o como se torna leve. Esta chave defende-te de ti mesmo.


GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 83.

Museu Aberto











 Campo Maior

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Se as palavras...

Se as palavras caminham é porque têm sede

E querem ser flor espaço e horizonte 

Elas descobrem o seu corpo tocando o indizível

mas também são a sombra do seu corpo sobre um muro branco


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 281.

sábado, 26 de julho de 2025

Batucando pela rua abaixo

 


MERCADO DE CULTURAS 
Lagoa

Nada se escreve sem terror perante o inerte e a plenitude de uma linguagem vã



ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 126.

Como dizer-te, meu amor

Como dizer-te, meu amor, somos feitos da poeira das estrelas


Matéria de antiquíssima construção amorosa

Por isso olho-te

Porque olhar-te é tocar a alma crepuscular da noite

conter no peito o inútil gesto

soprar no sangue o coração tardio


RIBEIRO, Rui Casal, Escrever a água, Lisboa, Edições Colibri, 2018, p. 84.

Vejo-te nas borboletas brancas e nos pardais

Vejo-te em todas as flores, em cada colibri

Que passe por acaso perto.


Gosto de pensar que é o teu espírito, só para me dizer olá 

A tua presença envolve-me, sempre.

Sinto a tua falta.

E adoro-te também.


REINHART, Lili, A arte de mergulhar, Alfragide, Edições Asa, p. 15.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Quero caminhar somente com o corpo que sou

Não quero esperar,

Não quero navegar num mar fácil de palavras. 

Quero caminhar somente com o corpo que sou,

Quero, sem querer, ser o próprio sangue, 

músculos, língua, braços, pernas, sexo,

a mesma certeza oculta e única, tantas vezes clara,

a mesma força que nos pulsos aflora, tensa



ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 71.