Qualquer coisa de intermédio entre um antes
de silêncio e um depois de silêncio.
Ou um rumor pesado de pedra. Deve ser.
Ou não. Casulo intacto, pode existir
Por si mesmo até ao fim. Cercado
Logo e sempre de silêncio, pois.
Só por momentos a lenta viagem
Sonora a percorrer periferias da memória,
Dos sentidos. Uno e concreto. Imóvel
E puro. De carência e excesso. Precário
Quão definitivo. Uma árvore
Sem floresta, uma flor num jardim
Inexistente. Uma carta de pedra
Lançada ao mar. E quanto ao mais
Em poesia já tudo por Homero foi
Inventado. Cada poeta depois dele
Não fez mais que desinventar
O seu pedaço.
(...)
Branco, Fernando de Castro in A mais frágil das moradas - poemas à memória de Eduardo Lourenço, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, p. 37.
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