Praia da Rocha, Portimão
O que dizemos é semelhante a uma praia. Unimos
as palavras, suas leves ondas. Elas vêm ter connosco
devagar, junto das algas, ainda com alguma areia
até se tornarem límpidas. Para quê dizer um pouco mais
que isto: P(QvR)? Fica assim a linguagem cada vez mais distante ao ser por nós pensada? Talvez
Só para que se encontrem as letras entreabertas,
Altas, esperando o que seria o pólen, a prometida
abundância de uma afirmação capaz de recordar-nos
A do amor. Olhemos à nossa volta: nesta pedra
Humedecida acaba uma das sílabas, a margem dividida
Do mesmo mar, ele que se torna igual a um conhecimento
Total, completo, o olhar sapiente, aquela seara
que acompanha um gesto, espuma também ou as verdades
suficientes. Foi assim no princípio, quando o sono procura
os seus passos dentro de nós. Este o rumor
Da linguagem que se diz universal, o cálculo, simples
inventário que se transforma para que fique
destruído. Depois é a última voz que chega, isto, o silêncio.
GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 19.

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