quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Não teme a morte?

- Não teme a morte? – insisti.

- Eu temê-la? Oh, não! – retrucou ele. – Não tenho nem medo, nem o pressentimento, nem a esperança da morte. Porque havia de ter? Com a minha constituição rija, o meu modo de vida sóbrio, as minhas ocupações sem perigo, deverei, provavelmente, permanecer sobre a terra até que não tenha mais um cabelo preto na cabeça. E, contudo, não posso continuar assim! Tenho de me lembrar de respirar… quase de lembrar o meu coração de bater! E é como dobrar uma mola dura: é por compulsão que executo o mais simples acto, não impelido por um único pensamento; e é por compulsão que reparo em qualquer coisa, viva ou morta, que não esteja ligada à minha única ideia. Só tenho um desejo e todo o meu ser e as minhas faculdades estão ansiosas por alcançá-lo. Há tanto tempo anseiam sito, e tão firmemente, que estou convencido de que ele será alcançado (e em breve) pois já devorou a minha existência: sinto-me tragado pela expectativa da sua realização. 


BRONTE,Emily, O Monte dos Vendavais, Matosinhos, Edições Book.it, 2011, p. 304.

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