- Não teme a
morte? – insisti.
- Eu temê-la? Oh, não! – retrucou ele. – Não tenho nem medo, nem o
pressentimento, nem a esperança da morte. Porque havia de ter? Com a minha
constituição rija, o meu modo de vida sóbrio, as minhas ocupações sem perigo,
deverei, provavelmente, permanecer sobre a terra até que não tenha mais um
cabelo preto na cabeça. E, contudo, não posso continuar assim! Tenho de me lembrar
de respirar… quase de lembrar o meu coração de bater! E é como dobrar uma mola
dura: é por compulsão que executo o mais simples acto, não impelido por um
único pensamento; e é por compulsão que reparo em qualquer coisa, viva ou
morta, que não esteja ligada à minha única ideia. Só tenho um desejo e todo o
meu ser e as minhas faculdades estão ansiosas por alcançá-lo. Há tanto tempo
anseiam sito, e tão firmemente, que estou convencido de que ele será alcançado
(e em breve) pois já devorou a minha existência: sinto-me tragado pela
expectativa da sua realização.
BRONTE,Emily, O
Monte dos Vendavais, Matosinhos, Edições Book.it, 2011, p.
304.
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