Aqui uma varanda onde um ferreiro faz renda, acolá um pátio onde um
pedreiro inventou uma nova geometria, além uma oficina onde um
caldeireiro fabrica ânforas esbeltas e vermelhas como cachopas afogueadas.
Aproveitando os incentivos do meio e os recursos do seu génio, o alentejano faz
milagres.
A própria paisagem sem relevo o estimula. Faltava ali o desenho
e a arquitectura, que nas outras províncias existem na própria natureza.
Pois
bem: concebeu ele o desenho e a arquitectura. E, na mais rasa das planícies,
ergueu essa flor de pedra e de luz que é Évora. (...)
Évora olha os horizontes
do alto do seu zimbório espelhado, povoa as casas de lembranças vivas e
gloriosas e, sequiosa apenas do eterno, risonha e aconchegada, enfrenta as
agressões do transitório com a força da beleza e a amplidão do espírito.
TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, pp. 86-87.
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