quarta-feira, 13 de julho de 2016

Évora de Miguel Torga


Aqui uma varanda onde um ferreiro faz renda, acolá um pátio onde um pedreiro inventou uma nova geometria, além uma oficina onde um caldeireiro fabrica ânforas esbeltas e vermelhas como cachopas afogueadas. 

Aproveitando os incentivos do meio e os recursos do seu génio, o alentejano faz milagres. 

A própria paisagem sem relevo o estimula. Faltava ali  o desenho e a arquitectura, que nas outras províncias existem na própria natureza. 

Pois bem: concebeu ele o desenho e a arquitectura. E, na mais rasa das planícies, ergueu essa flor de pedra e de luz que é Évora.  (...)  

Évora olha os horizontes do alto do seu zimbório espelhado, povoa as casas de lembranças vivas e gloriosas e, sequiosa apenas do eterno, risonha e aconchegada, enfrenta as agressões do transitório com a força da beleza e a amplidão do espírito.  

TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, pp. 86-87.

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