sexta-feira, 29 de julho de 2016

Lisboa serena

Lisboa não tem estes defeitos da luz: é serena, impertubável, silenciosa. Quer a sua inviolabilidade, evita as feridas terríveis. Tem a sensatez, a prudência, a economia, o medo. Não quer alumiar, para não lutar, não quer pensar para não sofrer. Não quer criar, pensar, apostolar, criticar. Escuta e aplaude toda a voz, ou sejam as imprecações sagradas de Danton, ou os versos do poeta Nero. As ondas que solucem, as florestas que se lamentem, ela tem o riso radioso e sereno.


QUEIROZ, Eça de, Lisboa, Crónicas e cartas, Lisboa, Editorial Verbo, 1972, p. 16.

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