sábado, 8 de janeiro de 2022

De onde chegam os poemas?


Os poemas chegam de longe, não trazem

com eles nem sacos nem malas, pousam

as palavras no chão da estrofe, tentam

arrumá-las na página, dobram-nas como

tudo aquilo que pode caber na mala ou

no saco. Os poemas não têm tempo para

descansar, não fecham o caderno que

ainda tem folhas em branco, procuram

imagens onde elas estiverem, no céu,

na rua, nas paredes do quarto, no armário

de cabides tão estreitos como versos. E

quando os poemas começam a falar, é como

se aqui estivessem estado, sempre, sem

nunca terem saído de ao pé de nós, metendo

dentro de nós tudo o que vemos sair

de dentro deles, para que os deixemos

partir com os seus sacos de palavras

e as suas malas de imagens, até onde

os esperam.


JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p 49

 

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