quinta-feira, 16 de junho de 2022

ah, coração ingénuo

há uma melodia que habita rente às palavras e

sai do que as prende à morte. aterra é coruscante e melancólica

como a juventude doente. saber tudo isto em surdina,

numa espiral de saudades a que se deu ouvidos.


ah, coração ingénuo, coração aluado


nos bosques do entardecer, na terra de ninguém,

flutuas na agonia, ficaste um cão de rumos tristes,

um focinho de sangue aveludado no caderno


diário das paixões, quando a música exprime tão densos

remorsos vagabundos de viver assim

e tudo pode ser singelo, furtivo e lancinante

como uma oliveira a arder por dentro do seu silêncio.


MOURA, Vasco Graça, Laocoonte, rimas várias, andamentos graves, Quetzal Editores, 2005, p. 66.

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