sábado, 11 de junho de 2022

O amor era para ele o desejo de abandonar-se ao arbítrio e à mercê do outro

Só posso explicá-lo dizendo que o amor estava para ele, não no prolongamento, mas nos antípodas da sua vida pública. O amor era para ele o desejo de abandonar-se ao arbítrio e à mercê do outro. Quem se entrega ao outro como um soldado se deixa fazer prisioneiro tem de despojar-se previamente de todas as armas. Vendo-se sem defesas, não pode coibir-se de estar sempre a pensar no momento em que o golpe fatal será dado. Posso portanto dizer, que para Franz, amar era estar constantemente à espera do golpe que iria atingi-lo a qualquer minuto.


KUNDERA, Milan, A Insustentável leveza do ser, Alfragide, D. Quixote, 32.ª edição, 2015, p.109.

 

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