segunda-feira, 30 de junho de 2025

Arco-íris


Évora 

Queria que o meu olhar namorasse o teu

Queria que o meu olhar namorasse o teu

Dançando no balanceio de o ver embalar 

Pelos cantos dos meus dias aos contos do teu noitar

levar lá essa coisa de trocarmos o tu e o eu

Levar-me, meu bem, a quem te traz 

trazer-te, num vai e vem, tanto faz.


queria que o meu verso conquistasse o teu

semeando o namoro de o poder rimar

pelos sonos do meu dormir aos donos do teu sonhar

Traçar lá essa pauta  para tocarmos o tu e eu


Levar-me, meu bem, a quem te traz

Trazer-me, num vai e vem, tanto faz.


Queria que o meu sonho beijasse o teu

Valendo a alegria de o deixar voar

Pelos ventos do meu dizer às artes do teu cantar 

Soltar lá essa nota para cantarmos tu e eu.

Levar-me, meu bem, a quem te traz

Trazer-te, num vai e vem, tanto faz.


ANTUNES, Fernando Machado, ... como quem lisboandando, Lisboa,  Guerra e Paz Editores, 2022,  p. 58


As nuvens

Portimão 



As nuvens passam cuidadosamente.

Escuto-as ou me escuto? Vejo-as ou me vejo?

Um cicio brando, um murmurar, um fluído 

e ténue perpassar de pétalas molhadas, 

Como flores que abriram no silêncio de outras.


SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 57.


Era

Era bela,

Jóia,

Querida

Mas nunca deixei de ser colorida...

Adorei a tua companhia

Mas sentia-me desiludida

Contei-te tanto da minha vida

Queria aprender a ser namorada 

Mas nem Sintra te despertou dessa letargia...

Vou sentir a tua falta

Do carinho, desabafos e conversas 

Mas tudo tem um fim...

Eu não queria que fosse assim

Mas tu nem um bocadinho assim

Lutaste por mim


Pt

sábado, 28 de junho de 2025

Arte no tecto














Os tectos das várias salas do Palácio de Queluz 

Tu és...

Tu és o meu primeiro 

amor, beijo, abraço!

Fazes a minha noite dia

Depois de há anos ter conhecido a tua magia

Descubro o teu respirar

Fico em letargia

A adorar-te...

Esperei imensos dias

Julguei que te transformarias 

num sonho bom...

Afinal, a realidade prega partidas 

Conhecer esta nova fase 

Surpreende-me

E nem consigo rimar na poesia

Apenas rumar para o mar

Para perceber no que isto vai dar...

Consegues sempre me deixar 

Sem saber como reagir 

Consigo estar mais atrevida

Mas quando gosto 

O nó no pescoço 

Teima em aparecer

Esta ingenuidade nunca vai me largar?

Receio a tua fuga?

Ou avaliar

Que afinal gostas um bocadinho de mim?

Xpto 

És mesmo um diabinho lindo

Tu és a bomba atómica da minha vida!



sexta-feira, 27 de junho de 2025

O tempo do mar, é o da eternidade


Praia da Rocha 

BUENO, A. B., O sentido litoral, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2023, p. 25.


Jardim de Queluz











 Palácio de Queluz 

Horizonte imediato

 Todos os dias me apoio em qualquer coisa

Ando, como, esqueço 

Alguma coisa aprendo

E desaprender

Alguma coisa limpa nua grave


Surge

Ao lado passa

Eu não sou este desejo

Que às vezes arde

Alto sobre o chão.


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 68.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

A tristeza

A tristeza é como uma luz acesa no coração.

A escuridão é como um esplendor que ronda a nossa noite.

Não temos mais de acender a pequena luz do luto

Para encontrar o caminho de regresso a casa atravessando a longa e vasta noite,

Como se fossemos sombras.

Bosque, cidade, rua e árvore estão iluminados.

Bem aventurado aquele que não tem pátria,

porque a terá em sonhos.


ARENDT, Hannah, Poemas, s.l., Sr Teste Edições, 2020, p. 26.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Não posso adiar o coração

Não posso adiar o amor para outro século 

Não posso

Ainda que o grito suficiente na garganta 

Ainda que o ódio estale e crepitar e arda

Sob montanhas cinzentas

E montanhas cinzentas


Não posso adiar este abraço

Que é uma arma de dois gumes

Amor e ódio 


Não posso adiar 

Ainda que a noite pese séculos sobre as costas 

E a aurora indecisa demore

Não posso adiar para outro século a minha vida

Nem o meu amor

Nem o meu grito de libertação 


Não posso adiar o coração 


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 30.

Dedico-te estes versos XPTO, faz hoje 4 anos que te conheci, numa noite de São João/  apanhaste-me o coração/  mas tive de adiar o coração/ luto por não querer dizer não/  ao professor que chumba por olvidação...

Marchas populares


 Marcha de N. Sra de Machede, Évora 

As minhas ilusões

As minhas ilusões fazem parte de uma lista

Onde até as coisas simples

São fruto de uma conquista.


TORDO, Fernando, Não me tapes o caminho em frente, mesmo que não vá dar ao futuro, Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2021, p. 37.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Colorido dos Santos Populares




 Évora 

Oiço

Oiço ainda a minha voz perguntar 

Qual será então o caminho certo

Só que todas as possíveis respostas

Se perderam noutros ouvidos talvez

Mais necessitados do que os meus.


VIEIRA, Alice, Olha-me como quem chove, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2018, p. 19.

sábado, 21 de junho de 2025

Millenials

 Nós somos a geração 

A funcionar a nada mais que a café 

E com três horas de sono.


Nós somos a geração 

A trabalhar com ordenados mínimos 

Com licenciaturas.


Nós somos a geração 

A fazer o dinheiro suficiente 

Para poder sobreviver.


Nós somos a geração 

Que não queriam ver falhar,

Mas asseguraram que assim seria.


- millenials.


 LOVELACE, Amanda, Aqui a princesa salva-se sozinha, Alfragide, Oficina do Livro, 2019, p. 181.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

segunda-feira, 16 de junho de 2025

domingo, 15 de junho de 2025

Não tenhas medo


 Évora não tem medo 😊

Diz-me...

 Não preciso de ouvir

'amo-te' todos os dias 


Nem de acordar a teu lado

todas as manhãs. 


Diz-me apenas que

vês o meu rosto quando

contemplas o pôr do sol


e eu saberei.


REINHART, Lili, A arte de mergulhar, Alfragide, Edições Asa, p. 69.

sábado, 14 de junho de 2025

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Il ne faut


Il ne faut plus dece schisme abominable!
Il ne faut plus d'enfer ni de paradis!
Il faut l'Amour, meure Dieu, meure le Diable!
Il faut que le bonheur soit seul, je vous dis!
Verlaine

 CESARINY, Mário, As mãos na água, a cabeça no mar, Porto, Assírio e Alvim, 2015, p.44.


Os que se amam nem sempre estão juntos

GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 12.

Dançando o Kunduro


 Praça do Geraldo - Évora 

Sóbrio o teu corpo me pede

Sóbrio o teu corpo me pede 

Penetração: nomes puros:

Os de boca, braços, mãos 

Sobre a terra e sobre os muros.


Sóbrio o teu corpo me pede 

Nomes justos, nomes duros:

Os de terra, fogo e punhos,

Claros, acres, escuros.



ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 57.

O que é?

É sono? É sonho? É ver?

Não sei, nem sei saber...

Há um sol negro no fundo

Do que me sinto ser

E à roda gira o mundo.


PESSOA, Fernando, Poemas esotéricos,  Porto, Assírio e Alvim, 2020, p. 132.

Lamento do poeta objectivo

Anda-me o amor tomando a própria vida,

Como se, amando, eu existisse mais.

E leva-me o Destino em voz traída,

Como se houvera encontros desiguais.


A multidão me cerca, e renascida,

Já dela terei fome de sinais.

E, mal a noite se demora ardida,

O medo e a solidão me esfriar tais


As cinzas desse amor que sacrificou.

Não é futura a só miséria. A queixa

Também não é: e apenas acontece 


No vácuo imenso que este amor me deixa, 

Quando maior, quando de si mais rico,

se dá de mundo em mundo, e lá me esquece.


SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 23

Bailarico de Verão


Praça do Geraldo em noite de Santo António 

Sabor-desejo, antes do beijo, sabor de beijo

Publico este verso porque esta noite sonhei com o teu beijo Xpto, o único milagre que o Santo António fez...

ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 37.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Brilha... o mar é perto

Praia da Rocha, Portimão 


Brilha o teu tecido circular,

A terra é um átrio: o mar é perto.

Há passos de mulher descalça.

O mundo é novo.

A terra clara.


Eu sou o homem que te ama e escuta

concentradamente no calor dum muro.

Cerrado, oiço a tua unidade plural,

vejo teus dedos grossos,

tuas marcas fêmeas, tua elegância dolorosa.

Teus seios me nutrem, olhando-te.


Mastigo-te, raiz, e quase te oiço.

Construo um músculo verbal em teu ouvudo,

alimento-me do teu mar visual e lento:

renasço pouco a pouco no teu horizonte dado.

Revejo-me num corpo ao pé do mar.


Silêncio no teu olhar, na tua boca.

Em tua língua primitiva o mar se olha.

É o deserto e falas, boca brusca

De ignorado alento.

Não te construo, constróis-me, construo-te

Construo-te, mar,

Parede pura,

Criada.


Aqui onde o sol se acende em carne,

Onde a casa é um nome de mar,

E os frutos e os espelhos 

Amadurecem o corpo solidário:

É Verão.


Aqui tu és 

Lenta verdade no sossego do sangue:

Circulação de nomes e de peixes.


Aqui, à fome dos nomes e dos seres,

Respondes, corpo do mar, coluna real

E teus acidentes se cumprem como ondas.

Aqui te palco, vela, aqui te vejo, pomo,

Formas meus braços, se te enleio,

Desato simplesmente os teus anéis,

bebo-te sem te extinguir e sem me esperares.

Amanhã serás tu, sendo já hoje.


Recebendo-te como outra, outra nasces

e a ti mesma te igualas, porque és mar.

Teu corpo denso se aproxima, ora se afasta.

Há um perfume de uma noite inextinguível

nas tuas coxas claras.



ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Porto, Assírio e Alvim, 2014, pp. 52-53.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

As árvores têm palavras

Portimão 



As árvores 

Têm palavras 

Que o vento 

Não consegue carregar,

Então temos nós 

De escrever

 nelas

As suas histórias 

Até que não hajam

Mais nenhumas

Para elas

Contarem.


- escreve a história.


 LOVELACE, Amanda, Aqui a princesa salva-se sozinha, Alfragide, Oficina do Livro, 2019, p. 172.

terça-feira, 10 de junho de 2025

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Não digas nada, beija

Na sombra, que dizes?

Brilham teus olhos tristes

Húmidos de amor que procuras.

A boca entreaberta como a carne

Que, fresca, estremece e aquece nos meus dedos.

Não digas nada, beija

o beijo que em meus lábios 

te curva a cabeça sobre o ombro

como a cintura nos meus braços quebra.

Se me pertences, beija;

Se não pertencerás mais do que agora,

beija.

Na sombra, que dizes?

PT

SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 47.

sábado, 7 de junho de 2025

Quero...

Praia dos Careanos 
Portimão 


Quero dormir na água das palavras
Que amam o silêncio 
E a lentidão da luz 
Que é o fulgor de uma evidência indecifrável 

Quero ser a concha do ingénuo sossego
De uma flora branca
Com o monótono murmúrio
De uma respiração solar (...)

ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Assírioe Alvim, Porto, 2014, p. 33.

 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

O que é a estupidez?

A estupidez, essa crassa crença intratável,  esta confiança indestrutível em si mesmo

(...)

ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Assírioe Alvim, Porto, 2014, p. 33.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Amar aqui é amar no mar

 

Praia da Rocha


ROSA, António Ramos, Poesia presente - Antologia, Assírioe Alvim, Porto, 2014, p. 94.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

As casas

Algumas existem dentro de nós. Por isso escolhemos 

As suas dimensões para que sejam os outros 

A habitá-las também.


GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 11.

domingo, 1 de junho de 2025

O caminho

Aquilo que esqueceste pode tornar-se agora 

No que conheces. Por vezes, as mãos recebem

Uma outra luz. Não sabes bem se esperasse

Pela sua claridade que depois se apaga

Como se já não fosse necessária. Diante de ti

Ficam ruas por onde nunca passaste, as praias

Que não conheces sequer. Assim se fecharam

Os teus olhos. Estas são imagens perdidas,

Mas ainda vês as ondas inexistentes, um caminho

Que recordas apenas. Por isso estás mais perto.


GUIMARÃES, Fernando, Junto à pedra, Santa Maria da Feira, Edições Afrontamento, 2018, p. 92.