Anda-me o amor tomando a própria vida,
Como se, amando, eu existisse mais.
E leva-me o Destino em voz traída,
Como se houvera encontros desiguais.
A multidão me cerca, e renascida,
Já dela terei fome de sinais.
E, mal a noite se demora ardida,
O medo e a solidão me esfriar tais
As cinzas desse amor que sacrificou.
Não é futura a só miséria. A queixa
Também não é: e apenas acontece
No vácuo imenso que este amor me deixa,
Quando maior, quando de si mais rico,
se dá de mundo em mundo, e lá me esquece.
SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 23
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