sexta-feira, 13 de junho de 2025

Lamento do poeta objectivo

Anda-me o amor tomando a própria vida,

Como se, amando, eu existisse mais.

E leva-me o Destino em voz traída,

Como se houvera encontros desiguais.


A multidão me cerca, e renascida,

Já dela terei fome de sinais.

E, mal a noite se demora ardida,

O medo e a solidão me esfriar tais


As cinzas desse amor que sacrificou.

Não é futura a só miséria. A queixa

Também não é: e apenas acontece 


No vácuo imenso que este amor me deixa, 

Quando maior, quando de si mais rico,

se dá de mundo em mundo, e lá me esquece.


SENA, Jorge de, Post-Scriptum, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 23

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